Um artista é um viciado. Um aficcionado pelo seu objecto de estudo.
Tudo o que a arte dignifica deriva de uma obsessão doentia pela representação e denunciação de uma realidade que, para o artista, é um vício constante e uma tortura necessária à sobrevivência.


Há dias deparei-me comigo a pensar qual é o meu objectivo nas minhas tentativas de objectos artísticos? Por que é que insisti neste ofício quando qualquer outro seria mais directo? Exigiria igual dedicação mas não estaria tão dependente dos sentimentos (creio eu). Claro que nos afecta se estamos mal e temos de marrar - mas termos de nos expressar... Odiando a forma como nos expressamos..

O facto é que tenho fobia de pessoas, acabo sempre por ter fobia de pessoas. Fobia e fascínio. Por que aquilo que realmente mais gosto de fazer é transmitir a paz que tento alcançar e muitas vezes não tenho. É um objectivo a atingir, a sensação, o modo de vida, o estar, e passá-lo ao outro.
O que quero de facto é ser boa pessoa.

E no que é que tal consiste? No bem desinteressado? Ajudar sem esperar ser ajudado. Dar sem esperar ser dado. Ora pela nossa natureza individualista mesmo quando não queremos esperar retribuição esperamos pelo menos simpatia. A expectativa mata.




Mas tomo por vezes atitudes que me parecem a mais correcta no momento. Preciso de o expressar, preciso de dizer ao outro. No entanto na natureza do outro está o não querer saber, ele não necessita disso. Evito conflito e dou por mim a provocá-lo por não ser totalmente submissa. E apenas por essa razão, por confrontar a minha moralidade com o mundo, com o que na altura me parece o melhor. E diriam que ninguém me pode julgar, certamente todos seguimos esse caminho, ou pelo menos, tentamos. Mas quando somos pessoalmente abordados por tal situação reagimos sempre de forma consoante.
E na verdade há quem não se preocupe com tais questões. Mas como a minha inevitável fobia e fascinação se ronda no contacto humano.. é como uma mini tortura que imponho a mim mesma, sempre a matutar.


Hermann Nitsch